EM QUEDA! Surto de coronavírus afeta economia em Alagoas e exportações caem 98,4%
Açúcar e etanol são os principais produtos que saem do estado. A produção aumentou, mas as vendas estão em declínio
A economia mundial está sob ameaça e o coronavírus é o vilão do momento. O surto, já classificado como pandemia, tem interferido nas negociações entre países produtores. Além da retração econômica, o resultado provocou queda nos preços das commodities e nas bolsas de valores. Neste cenário, a crise também chega a Alagoas e as exportações de açúcar para China chegam a cair 98,4%.
A China é o principal comprador de produtos brasileiros, mas os dados do comércio exterior já indicaram queda de 10% no volume de exportações ao país asiático no último mês de janeiro. Nessa última semana, conforme divulgado pelo portal financeiro InfoMoney, o índice Ibovespa – Bolsa de Valores de São Paulo e uma das principais do mundo – chegou a cair 15%.
Em Alagoas, o Sindicado da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar-AL) divulgou aumento de 9,1% na produção de cana na safra 2019/2020 em relação ao ano anterior.
A entidade informou ainda, por meio de boletim, que já foram produzidas pelas usinas mais de um milhão de toneladas de açúcar nos últimos cinco meses. Isso representa um aumento de aproximadamente 10% em relação ao mesmo período da moagem anterior. Também foram gerados 377 mil litros de etanol – um crescimento positivo de 4,4%. Os dois produtos estão na lista dos principais itens de exportação de Alagoas.
O presidente da Associação dos Produtores de Cana de Alagoas (Asplana), Edgar Filho, aponta para a possibilidade de geração de estoque dos produtos no estado. “No momento, vemos um reflexo no aumento do preço do açúcar no mercado internacional, o que é bom para Alagoas, mas, como o setor tem reagido à presença do coronavírus e a União Europeia também produz açúcar, pode gerar estoque por aqui, se houver restrição no mercado internacional. Esse pode ser o reflexo que o vírus pode ter em nosso setor, mas não sabemos se vai haver restrição. Ainda não podem avaliar o impacto total”, frisou.
Para o economista Jarpa Aramis Ventura de Andrade, como o número de casos de suspeitos do coronavírus tem crescido no Brasil nos últimos dias, o quadro acaba por levar temor às pessoas e, com isso, pode resultar na retração da economia.
“Esse tipo de problema vai se alastrando e a saúde pública não consegue conter e termina gerando realmente um comportamento diferente nas pessoas, que começam a ter medo, receio de sair às ruas. Com isso, deixam de ir às academias, supermercados, faculdades. Enquanto reduz o movimento, termina reduzindo a atividade econômica, que resulta em demissões. É um ciclo pernicioso na economia. A atividade econômica começa a desacelerar”, descreveu Ventura.
O economista reconhece que o quadro atual em relação à pandemia em Alagoas ainda é indefinido e, até o momento, pouco se sabe quando a situação irá se estabilizar. Em razão disso, as pessoas estão temerosas, mesmo com o posicionamento do poder público, que não vê motivo para pânico.
“Se o surto explode, então passa a diminuir substancialmente a atividade econômica em Alagoas. Quando se tem um problema de saúde como este, começa a se proibir a circulação de pessoas e mercadorias em determinada região [como ocorre na China] e isso começa a gerar um grande problema, devido à transmissão entre as pessoas. Vai depender do quanto nosso sistema de saúde está preparado para isso também, mas deve haver sim desaceleração econômica. Nós já tivemos uma década perdida e podemos ter outra, devido à imprevisibilidade. Não temos como prever doença”, acrescentou Jarpa Aramis.
A doença, identificada como Covid-19, surgiu no final de 2019 na China e se espalhou por mais de 90 países, com mais de 100 mil casos suspeitos em todo o mundo. O Brasil possui mais de 100 casos registrados e em Alagoas já há um paciente confirmado.