UE busca compensar agricultores para avançar acordo com Mercosul, enquanto resistência de países como França e Irlanda promete dificultar negociações futuras.

A Comissão Europeia está em processo de elaboração de um fundo específico que visa compensar os agricultores europeus diante dos impactos que um possível acordo de liberalização comercial com o Mercosul pode causar. As negociações para este tratado, que se arrastam há anos, ameaçam acirrar as tensões entre os estados membros da União Europeia (UE), especialmente entre nações como França, Irlanda e Áustria, que já manifestaram clara oposição ao arranjo.

A proposta de compensação surge como uma estratégia da Comissão para mitigar a oposição interna e seguir em frente com o tratado, que poderia ser concluído até o final deste ano. Esse tipo de recurso não é inédito; em 2021, a UE já havia destinado € 5,4 bilhões para proteger setores afetados pela saída do Reino Unido do bloco, e, em 2019, promessas de € 1 bilhão foram feitas pelo então comissário de Agricultura para a agricultura europeia em resposta a desequilíbrios potenciais causados por acordos anteriores com o Mercosul.

Apesar dessa intenção, a recepção dos agricultores europeus ao plano de compensação foi bastante negativa. Muitos no setor agrário acusam a Comissão Europeia de tentar “comprar seu silêncio”, uma crítica expressa pelo presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Exploração Agrícola da França, Arnaud Rosseau. Ele caracterizou a abordagem como absurda e inaceitável, especialmente com o temor crescente de que as importações de carne bovina da América do Sul possam desestabilizar o mercado europeu.

O presidente francês Emmanuel Macron tem sido um dos críticos mais fervorosos do acordo, defendendo que a proposta atual é inaceitável sem garantias adequadas em relação às questões climáticas e à proteção dos agricultores da UE. Ele ressalta que os países do Mercosul não têm respeitado os compromissos estabelecidos acordos internacionais sobre o clima, e, enquanto um negociador reconheceu que as compensações podem ser uma ideia viável, a resistência permanece firme nos círculos políticos franceses. Caso 45% dos membros da UE, que representem 35% da população do bloco, se oponham ao acordo, ele poderá ser bloqueado.

Entretanto, apesar das divisões internas e das crescentes críticas, as negociações entre a União Europeia e o Mercosul continuam a avançar, indicando que a pressão por um acordo pode manter o ímpeto nas discussões recentes.

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