Ausência de Modi e Ramaphosa em encontro da Commonwealth revela desgaste e preferências por novas alianças globais, destacam analistas políticos.

A ausência dos líderes indiano, Narendra Modi, e sul-africano, Cyril Ramaphosa, na 27ª Reunião de Chefes de Estado da Commonwealth, realizada entre os dias 25 e 26 de outubro em Apia, Samoa, destaca um evidente desgaste da organização, geralmente vista como uma relíquia da era imperial britânica. Este encontro, que tradicionalmente reúne representantes das 56 nações integrantes para discutir questões globais, careceu de figuras proeminentes, pois ambos os líderes optaram por enviar representantes de menor escalão, refletindo uma possível reorientação em suas prioridades geopolíticas.

O evento ocorreu logo após a Cúpula do BRICS, que teve lugar na Rússia, e especialistas sugerem que essa escolha não foi meramente prática, mas sim uma clara declaração de política externa. Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da UERJ, lembra que a decisão de Modi e Ramaphosa de priorizar o BRICS sobre a Commonwealth não é apenas um reflexo das escalas de importância, mas uma escolha intencional de se aliar a um bloco que representa um novo eixo de poder global, mais alinhado com os interesses do Sul Global.

A Commonwealth, com suas origens na Declaração Balfour de 1926 e a descolonização pós-Segunda Guerra Mundial, foi desenhada para manter uma relação de controle sobre as ex-colônias britânicas. No entanto, a relevância dessa instituição tem sido questionada, especialmente diante da crescente influência de alianças alternativas como o BRICS, que promovem um modelo multipolar de governança global.

A situação se torna ainda mais alarmante para a Commonwealth com a falta de participação de outros líderes significativos, como o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que enviou um alto-comissário em seu lugar. Enquanto a ausência de Modi e Ramaphosa parece indicar uma mudança geopolítica, a falta de representação canadense é atribuída a problemas políticos internos, revelando, no entanto, que as nações preferem priorizar suas questões internas em detrimento de encontros que já não detêm o mesmo prestígio.

A presença apenas dos primeiros-ministros do Reino Unido e da Austrália sublinha a marginalização da Commonwealth, que se vê despojada de suas maiores economias, o que levanta novas questões sobre sua eficácia e relevância no cenário internacional atual. Essa dinâmica aponta não só para um possível colapso da influência britânica, mas também para uma ampliação do debate sobre as reparações históricas e a justiça social, impulsionado por vozes emergentes de países anteriormente colonizados. À medida que dirigentes de nações do Sul Global se unem em blocos alternativos, o futuro da Commonwealth parece incerto, levantando questões sobre sua capacidade de se reinventar em um mundo cada vez mais multipolar.

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