Ausência de Modi e Ramaphosa em encontro da Commonwealth revela desgaste e preferências por novas alianças globais, destacam analistas políticos.
O evento ocorreu logo após a Cúpula do BRICS, que teve lugar na Rússia, e especialistas sugerem que essa escolha não foi meramente prática, mas sim uma clara declaração de política externa. Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da UERJ, lembra que a decisão de Modi e Ramaphosa de priorizar o BRICS sobre a Commonwealth não é apenas um reflexo das escalas de importância, mas uma escolha intencional de se aliar a um bloco que representa um novo eixo de poder global, mais alinhado com os interesses do Sul Global.
A Commonwealth, com suas origens na Declaração Balfour de 1926 e a descolonização pós-Segunda Guerra Mundial, foi desenhada para manter uma relação de controle sobre as ex-colônias britânicas. No entanto, a relevância dessa instituição tem sido questionada, especialmente diante da crescente influência de alianças alternativas como o BRICS, que promovem um modelo multipolar de governança global.
A situação se torna ainda mais alarmante para a Commonwealth com a falta de participação de outros líderes significativos, como o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que enviou um alto-comissário em seu lugar. Enquanto a ausência de Modi e Ramaphosa parece indicar uma mudança geopolítica, a falta de representação canadense é atribuída a problemas políticos internos, revelando, no entanto, que as nações preferem priorizar suas questões internas em detrimento de encontros que já não detêm o mesmo prestígio.
A presença apenas dos primeiros-ministros do Reino Unido e da Austrália sublinha a marginalização da Commonwealth, que se vê despojada de suas maiores economias, o que levanta novas questões sobre sua eficácia e relevância no cenário internacional atual. Essa dinâmica aponta não só para um possível colapso da influência britânica, mas também para uma ampliação do debate sobre as reparações históricas e a justiça social, impulsionado por vozes emergentes de países anteriormente colonizados. À medida que dirigentes de nações do Sul Global se unem em blocos alternativos, o futuro da Commonwealth parece incerto, levantando questões sobre sua capacidade de se reinventar em um mundo cada vez mais multipolar.